segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Aniversário de Herberto Helder

Hoje faz 79 anos o poeta Herberto Helder. É uma das nossas maiores e mais originais vozes poéticas de sempre e, talvez, o mais marcante dos poetas activos em Portugal. A sua dicção é inconfundível, a novidade e o assombro dos seus textos e das imagens que eles sugerem são tão grandiosos que nos deixam por vezes aquém (ou além) da força da poesia, mas nunca indiferentes. O poeta vive à margem dos circuitos e dos holofotes da fama fácil, mas a grandeza da sua poesia é um desafio para todos nós. Como homenagem fica, para aperitivo, o poema "Se houvesse degraus na terra":

Se houvesse degraus na terra e tivesse anéis o céu,
eu subiria os degraus e aos anéis me prenderia.
No céu podia tecer uma nuvem toda negra.
E que nevasse, e chovesse, e houvesse luz nas montanhas,
e à porta do meu amor o ouro se acumulasse.

Beijei uma boca vermelha e a minha boca tingiu-se,
levei um lenço à boca e o lenço fez-se vermelho.
Fui lavá-lo na ribeira e a água tornou-se rubra,
e a fímbria do mar, e o meio do mar,
e vermelhas se volveram as asas da águia
que desceu para beber,
e metade do sol e a lua inteira se tornaram vermelhas.

Maldito seja quem atirou uma maçã para o outro mundo.
Uma maçã, uma mantilha de ouro e uma espada de prata.
Correram os rapazes à procura da espada,
e as raparigas correram à procura da mantilha,
e correram, correram as crianças à procura da maçã.

Parabéns, Herberto Helder.

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