quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Autor do mês, Dezembro de 2009 - 1º e 2º ciclos

Isabel Alçada

Biografia (feita pela própria escritora, depois adaptada e aumentada)

Nasci em Lisboa no dia 29 de Maio de 1950. Fui a primeira de três irmãs. Na
nossa família havia gente de todas as idades e convivíamos constantemente.
Estudei no Liceu Francês, onde me correu sempre tudo bem. Tinha amigos,
gostava dos professores e tinha boas notas. A disciplina preferida variava.
Só tenho boas recordações de férias. Íamos para a praia de São Martinho do
Porto com tios e primos. Divertíamo-nos imenso. Em Setembro instalávamo-nos
no Cartaxo e aí tínhamos muito contacto com animais. Adorávamos meter-nos
no galinheiro e perseguir a bicharada, recolher ovos do ninho e fugir dos gansos e dos adultos...
Mais tarde a família escolheu outro poiso para férias, a Praia das Maçãs. Como era uma zona
pacata, gozávamos de grande liberdade, podíamos andar de bicicleta pelo pinhal e fazer
escaladas na serra de Sintra. Organizávamos o percurso com antecedência, de preferência cheio
de obstáculos, para tornar mais emocionante a escalada até ao Castelo dos Mouros ou ao Palácio
da Pena. Não nos esquecíamos de levar um piquenique...
À medida que fomos crescendo, o grupo ia aumentando. Surgiram os primeiros namoros, alguns
por quinze dias, outros até ao fim do Verão. E tivemos as primeiras festas com dança. Para fazer
boa figura, treinava passos de rock na garagem com as minhas irmãs e os meus pais. Quase
todos os anos fazíamos uma pequena viagem pelo país ou então a Espanha.
Além do estudo, dedicava-me à ginástica desportiva e frequentava aulas de teatro. Representei
com bastante êxito numa peça de Gil Vicente. Não foi fácil escolher que curso queria tirar
porque gostava de todas as matérias. Quando acabei o liceu, inscrevi-me na Faculdade de Letras
de Lisboa e fiz o primeiro ano de um curso de Línguas. Como não gostei, mudei para Filosofia.
Casei no dia 30 de Maio. Tinha feito dezoito anos na véspera! Continuei a estudar e comecei a
trabalhar dando explicações de Português e Filosofia.
Depois arranjei o primeiro emprego fora de casa e, como trabalhava muitas horas por dia, só
podia estudar ao fim-de-semana. Nessa altura já tinha uma filha, a Vera, felizmente muito
sossegadinha. Acabei por escolher ser professora do 2.º ciclo.
Em 1976 conheci a Ana Maria Magalhães à porta da Escola Fernando Pessoa em Lisboa.
Começámos logo a preparar aulas em conjunto para os nossos alunos e dávamo-nos muito bem,
talvez por termos tido uma infância e uma juventude semelhantes.
Entretanto, a minha vida mudou muito. Fui estudar para a América, trabalhei como professora
na Escola Superior de Educação de Lisboa, coordenei o Plano Nacional de Leitura e agora aceitei
o grande desafio de ser Ministra da Educação. Divido-me em muitas actividades mas tento
nunca prejudicar a família. Faço questão de guardar muito tempo para estar com os meus netos.

Autor do mês, Dezembro de 2009 -3º ciclo e secundário

José Régio

José Régio é o pseudónimo de José Maria dos Reis Pereira. Nasceu a 17 de
Setembro de 1901, em Vila do Conde, cidade onde viveu durante a sua infância e
adolescência e onde fez os seus estudos. Após uma estadia de dois anos no Porto,
para concluir os estudos secundários, foi para Coimbra frequentar a Faculdade de
Letras. Aí se licenciou em Filologia Românica, em 1925, defendendo uma tese em
que foi feita pela primeira vez a apologia dos poetas do Orpheu.
Cedo iniciou a sua actividade literária em jornais e revistas. É de salientar a sua
colaboração nas revistas portuenses Crisálida e A Nossa Revista e nas coimbrãs Bizâncio e
Tríptico. Foi em Coimbra que consolidou as suas qualidades literárias, não apenas pelo intenso
contacto com livros que vieram a influenciar a sua obra, mas também pelo convívio com
intelectuais que marcaram um período fecundo do século XX, tanto na criação como na crítica.
No mesmo ano em que concluiu a licenciatura publicou o seu primeiro volume de poesia,
Poemas de Deus e do Diabo, usando pela primeira vez o pseudónimo José Régio. Em Março de
1927 fundou, com João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, a revista Presença, que durou
treze anos e foi considerada o órgão oficial do segundo modernismo.
Concluído o curso da Escola Normal, iniciou a carreira docente com uma breve experiência
como professor provisório no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, até ser nomeado, em 1930,
professor efectivo do Liceu de Portalegre, cargo que exerceu até se reformar, em 1962.
Desde então viveu alternando a sua residência entre Vila do Conde e Portalegre, até que, em
1966, após doença prolongada, se instalou definitivamente em Vila do Conde. Morreu a 22 de
Dezembro de 1969, vítima de doença cardíaca. Assinala-se este mês, portanto, o quadragésimo
aniversário da sua morte.
Trabalhador incansável, partilhou sempre as tarefas docentes com múltiplas actividades. Além
da criação literária, manteve colaboração em jornais e revistas como crítico e polemista. É de
realçar o seu envolvimento político, tendo-se mantido firme e frontal nos seus ideais socialistas,
apesar do regime repressivo de então. O isolamento a que por vezes se votava para a produção
literária não o impedia de frequentar as tertúlias nem de manter contactos com os meios
literários através de cartas. Foi coleccionador empenhado de peças antigas de arte popular com
que recheou as casas de Portalegre e de Vila do Conde, actualmente abertas ao público.