Foi já anunciado o contemplado deste ano com o prestigiado Prémio Camões. Trata-se do escritor brasileiro Ferreira Gullar, um nome não muito conhecido entre nós, mas a quem está reservado um lugar central na literatura brasileira contemporânea. Crítico de arte, recentemente cronista, mas sobretudo poeta, definindo-se a si mesmo como um "observador empenhado" da realidade, Ferreira Gullar não é um autor imune às injustiças e enormidades sociais e humanas que mancham o nosso tempo, das quais se faz eco na sua escrita. Em obras como Poeta sujo está bem patente uma poética de comprometimento político e cívico, mas sem partido e sem doutrina, feita de lirismo apenas. Esse comprometimento já lhe valeu, inclusive, o epíteto de "resmungão". É extensa a lista das obras que já publicou numa actividade que se tem mostrado incessante e sempre activa desde meados dos anos 50 até hoje. Encontra em http://www.ionline.pt/conteudo/62502-premio-camoes-ferreira-gullar-surpreso-e-felicissimo uma notícia relativa à efeméride e deixamos-lhe também este poema, que serve para levantar um pouco o véu que, pelo menos em Portugal, ainda cobre o nome e a obra deste importante autor brasileiro, a cuja distinção nos associamos:
Cantiga para não morrer
Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
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